Lulopetismo: era a floresta ou apenas algumas
árvores da corrupção (que tinham que ser extirpadas)?

E o que dizer dos 106 mil correntistas
do HSBC na Suíça (8 mil contas envolvendo brasileiros) que sonegavam do
conhecimento das autoridades mais de US$ 100 bilhões?
E os US$ 100 bilhões que os países em
desenvolvimento deixam de arrecadar em impostos por causa dos paraísos fiscais
(conforme revelação do Panamá Papers)?[1] Quantos danos sociais estão por trás dessa
delinquência internacional, normalmente praticada pelas oligarquias poderosas
de cada país?
Onde estava a criminologia clássica
(chamada de causalista ou positivista), tão europeizadamente racista, que não
estudou todos esses danos sociais? Essa é a pergunta que hoje, estupefatos,
Ferrajoli, Morrison, Zaffaroni, Iñaki Rivera e tantos outros estão fazendo?[2]
A Lava Jato, ao escancarar aos nossos
olhos as vísceras putrefatas de um período tenebroso da corrupção secular
brasileira, contribuiu fortemente para o afastamento do poder do lulopetismo.
Mas se vê que a Lava Jato só nos revelou apenas algumas árvores (que deveriam
ser extirpadas, não há dúvida), não a imensa floresta da velha corrupção das
oligarquias extrativistas (políticas, administrativas, midiáticas, econômicas,
financeiras etc.), que nunca deixaram de sugar o Brasil.
Alguns corruptos, com a Lava Jato,
estão sendo eliminados do funcionalismo público ou do mercado. Mas a cultura da
corrupção não acabou. A Lava Jato, sozinha, como já reconheceu a força-tarefa
incontáveis vezes, não é suficiente para debelar as roubalheiras das
oligarquias políticas e econômicas que estão ancoradas dentro do Estado
brasileiro. Se o mal não for cortado pela raiz, nos países de instituições
extrativistas (saqueadoras) como o Brasil, nem em mil anos acabaremos com o
problema.
Como diz o sociólogo sueco Bo
Rothstein, o combate eficaz contra a corrupção exige uma série de medidas
tomadas concomitantemente (medidas penais, civis, educacionais, culturais
etc.). Uma medida isolada não produz o efeito que a população deseja. Se
ficarmos exclusivamente na Lava Jato (que é importante, não há dúvida),
corremos o risco de copiar a Itália, que hoje tem uma corrupção mais
sofisticada, tipo 2.0.
[1] Sobre os números citados ver http://www.ihu.unisinos.br/noticias/553844-panama-papersocusto-humano-da-corrupcao,
consultado em 16/5/16.
[2] Ver Delitos
de los Estados, de los Mercados y daño social, coordenação Iñaki Rivera.
Barcelona: Anthropos, 2014.
Professor
Jurista e professor. Fundador da Rede
de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Foi Promotor de
Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001).
[ assessoria de comunicação e imprensa +55 11 991697674 [agenda de palestras e
entrevistas] ] Site:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Por favor me de a sua opiniao